Procuro conforto nos sitios mais improvaveis by Cristalee, literature
Literature
Procuro conforto nos sitios mais improvaveis
Procuro conforto nos sítios mais improváveis;
Às vezes abro a torneira e a água corre
ao ponto de senti-la a queimar a epiderme
mas nada em mim exterioriza
a passagem entre o confuso e o inegável.
O corpo é hóspede receptivo
à distracção que me tira o foco da minha existência
como se talvez houvesse mundo para além de mim.
Procuro conforto nos sítios mais improváveis,
tentando estancar o nada que corre nas artérias,
aplicando pressão no que mais arde em mim,
vendo o meu reflexo olhos nos olhos,
desdobrando-me em multiplicidade duvid
e é nas horas em que não estás
que balanço num voo
que se quebra e se rebenta
entre sombras e sóis
de um dia que não o foi
posso sentir os pés a falharem
o chão que os devia prender
e o frio que amarra os movimentos
o turbilhão no estômago
que antece o incerto
e todos os dias dou-te tudo de mim
tudo o que de divino tenho para dar
mostro todas as cartas
todos os truques
sempre a perder-me
nesses teus rumos que não sei tomar
e nesses dias escrevo-te
versos que nunca irás ler
traços que não podes ver
monstros que não sei guardar
e liber
Noite de Inverno, dia de semana.
A casa chegas, fingindo-te cansado,
Cansado de mais um dia de distração.
Jantas, vês o telejornal,
Preparas-te para ir passear o cão.
Na rua, a mente divaga,
Percorre os prazeres supérfluos num torvelinho,
Ignora a vida que Algo te deu com carinho,
As pernas deambulam pelo roteiro do costume...
Ela sussurra então aos teus ouvidos.
Não reconheces, nunca te preocupaste que com ela havias de te opôr,
Mas notas a noite mais fria, mais negra, cheia de horror.
A sua pele húmida, escamosa roça o teu peito...
Num calafrio, ele encolhe, pára,
Sepulta os teus pul
Se alguma ave,
Que voa no céu,
Reparasse em alguém
Como eu,
Nunca mais voltaria a cantar,
Ao ver-me preso ao chão,
Sem puder voar.
Mas asas eu tenho,
Maiores que condor,
E sem correntes
Eu voo para onde for,
Mas agora como posso eu voar
Se ela cá dentro de mim
Me manda voltar?
Quanto tempo eu precisarei
para cair em mim,
Se quem me prende
não passa de uma miragem?
Voo sempre em direcção
Das minhas lágrimas,
Para sentir o amor
Apenas de passagem.
Fico magoado, não por me dizeres que estou longe de ser o melhor poeta do mundo, mas por ter consciência de que há tanta gente como tu, tão longe de entender a essência da Poesia. Ambos, tu e eu, vivemos distantes da realidade e da verdade. Eu, na minha escrita, vagueando pelas palavras, perco-me, desde o ar a entrar no meu peito - que logo se transforma noutra coisa - fazendo-me flutuar para outra dimensão, até aos constantes e contínuos arrepios de emoções à flor da pele, separando-me do mundo exterior, tendo nas minhas mãos a máxima liberdade - um pape
A arvore que da sonhos by FenrirSleeps, literature
Literature
A arvore que da sonhos
- Pai, olha! O que é aquilo?
- O quê? Onde?
- Ali, no céu!
- Ah...não sei!
- Tem umas luzes que piscam!
- Será que é um ovni?
- Ah!
- Estou a brincar, filho. Os ovnis não existem, aquilo é só um avião.
- Oh...e os aviões podem voar de noite?
- Ó filho, claro que podem! Até tu já andaste de avião à noite.
- Quando? Não andei nada.
- Andaste sim senhor, comigo e com a mãe, quando visitámos os teus primos em França. Lembras-te? Apanhámos o avião no aeroporto à noite.
- Ah, agora já me lembro…mas aquele avião tem umas
.
O peso imenso do mundo arrasta-te para debaixo dos sonhos
tornando-os longínquos
inatingíveis
e mesmo quando há quem diga que tudo é possível ou que nada é impossível
- dependendo da perspectiva -
Sê optimista, sê pessimista
sê apenas humano
um corpo que se pode afogar nas correntes violentas das palavras
no turbilhão que delas rasga a garganta e o peito estanque
porque o peso do mundo é imenso
e os teus ossos frágeis quanto fósforos ardidos apesar do vento
nesta ânsia de sobreviver ao incêndio da ruptura
das mãos outrora entrelaçadas e dos peitos colados
pelo sôfrego desejo efémero de se evadirem
à solidão
.
Pedro Alves
.
Demasiado tempo
Demorei demasiado tempo
Demorei o tempo, todo o tempo
Que me pediste
Agora esse tempo passou, esvaneceu-se
E já não me restam sequer migalhas
Já nada tenho no bolso para além de um punhado de moedas
Nem no peito, nem na lingua
E a ponta do meu nariz acomodou-se ao frio deste inverno recém chegado apesar de ter chegado, demasiado atrasado
Porque se somos ponteiros de um relógio que já não se tocam somos um relógio avariado
E o tempo que contamos não é o certo nem o devido
Somos dois corpos celestes que nunca se encontram
Somos pólos magnéticos que se repelem
Somos aves e migramos para hemisférios diferentes
Apesar de tudo
A